terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Cachorro, a coleira e a guia..

O Cachorro, a coleira e a guia..

Por Dr. Clandestino


Há quem não saiba, mas os cachorros e os lobos pertencem a uma mesma espécie, a diferença é que, no decorrer da história da civilização humana, alguns lobos foram domesticados, e assim surgiu o "melhor amigo do homem".

Os cachorros, desde pequenos, são ensinados, por meio de ameaças e punições violentas, a não morder, a fazer suas necessidades fisiológicas em locais pré-determinados e comer segundo as regras da casa e as posses do dono..

Uma vez vi um casal passeando com seu cachorro em um parque. O cachorrinho, um pequinês de latido ardido e estridente, usava a sua coleira e era conduzido por meio de sua guia.

Se bem que isso não era bem o caso, na verdade o cachorrinho era quem puxava os donos, andando em sua frente arfante, assim como um burro que puxa uma carroça, e era contido, detido, pelo dono, que segurava a guia em suas mãos.

Teve uma hora em que algo curioso ocorreu, me motivando a escrever esse texto. A coleira se partiu de súbito, e livre da guia que o conduzia, dos grilhões que cerceavam a sua liberdade, o pequinês se apavorou! Em vez de sair correndo, em celebração a sua liberdade recém adquirida, aquele pobre animal deixou-se subjugar, deitando em sinal de submissão, e ganiu até que a sua dona o tomasse no colo.

A imagem que me veio à mente, suscitada pelo que testemunhei, foi outra. O que aquilo me lembrou foi o povo humilde e oprimido deste país, que espera dos políticos, seus representantes públicos, a solução de todos os seus problemas..

Mas, vejam que ironia, os políticos, ou melhor, a instituição da democracia representativa, é o nosso maior problema!

O fato de sermos obrigados por lei a exercer a nossa cidadania, o direito de auto-gestão, necessariamente através do voto, elegendo inevitavelmente alguns calhordas inúteis, corruptos, desonestos e hipócritas.

Quando é que vamos nos desvencilhar dessa coleira que nos transforma a todos em míseros pequineses, forçando-nos a renegar o lobo que abita dentro de nós, um ser mais do que capaz de cuidar de si mesmo, nem que seja obrigado a pagar o preço do isolamento, para libertar-se dos grilhões que nos oprimem, dos opressores que nos subjugam, dos safados que nos exploram?

A solução, amigos e amigas está na revolução da Democracia Direta Digital!

Em uma democracia todo poder pertence ao povo e emana do povo.

Existem 2 tipos de democracia:

- Direta

- Indireta

A Democracia Direta permanece, até os dias de hoje, como um projeto inalcançável, um sonho tão intangível quanto a Utopia.

A Democracia Indireta, ou representativa, é a nossa realidade, o melhor que pudemos concretizar nessa atual conjuntura histórica.

As diferenças entre a Democracia Direta e a Democracia Indireta são obvias:

- Na primeira, cada cidadão representa a si mesmo, sem ser obrigado a depositar a sua confiança em um agente político responsável por tornar públicas as vozes de certo segmento da população.

- Na segunda, os cidadãos se reúnem para escolher dentre si aqueles que julgam melhor capacitados para representá-los perante o governo e a sociedade.

Em termos de desempenho e eficiência, a Democracia Direta possui muitas vantagens em relação à Democracia Indireta, e a mais patente delas é a sua característica de imunidade contra a CORRUPÇÂO; como fraudes de licitações, desvio de verbas e tráfico de influências. Isso porque, na Democracia Direta, o povo não coloca nas mãos de indivíduos, humanos e consequentemente falíveis, mais poder decisório do que uma pessoa honesta pode acumular antes de ser corrompida nesse processo.

A Democracia Indireta, no entanto, tem uma razão histórica para existir, não é apenas um erro de julgamento ou uma armadilha em que caíram os nossos antepassados.

Veja, Democracia Direta, depende de fatores que limitam a sua aplicabilidade. É impossível contornar o problema da reunião de centenas de milhões de pessoas em um mesmo local, sob um mesmo teto, ao mesmo tempo, para decidir que rumo dar às suas vidas, discutir e aprovar as leis as quais todos se deverão se submeter, deliberar a divisão do orçamento público; ou seja, realizar todas as tarefas que são de responsabilidade e competência do Poder Legislativo.

Há milhares de anos, na Grécia Antiga, quando o ideal de Democracia foi estabelecido, os cidadãos podiam se reunir em assembléias públicas, chamadas Ágoras, e decidir por meio de votações as medidas que seriam implementadas pelo Estado em benefício de todos, mas isso só foi possível porque eles eram poucos, não mais que algumas centenas, pois a cidadania era privilégio dos homens livres, as mulheres e os escravos, que compunha a força de trabalho sobre a qual a sociedade se sustentava, eram relegados à uma categoria inferior, destituída de direitos cívicos.

Vamos dizer que esses preconceitos já tenham sido extintos de nossa sociedade, para a implantação da Democracia Direta, ainda há o obstáculo de colocar todos os eleitos em um mesmo lugar para que estabeleçam um diálogo produtivo sobre o modo como deverão conduzir os seus destinos..

Sendo a Democracia Direta impossível no mundo "real", passamos para a próxima alternativa, a Democracia Direta no mundo "virtual"!

Estamos falando de um sistema de comunicação digital, uma interface eletrônica que conecte cada cidadão a um ambiente virtual onde possam trocar idéias em tempo real; estamos falando da Internet.

A Internet permite um resgate do ideal da Democracia Direta do passado longínquo, concretizando um ideal que faz a ponte entre a Realidade e a Utopia que desejamos construir..

Democracia Direta Digital, instrumento de emancipação popular

Democracia Direta Digital, instrumento de emancipação popular

por Dr. Clandestino

baseado no texto "A democracia digital e o problema da participação civil na decisão política", de Wilson Gomes.

Resumo:

- Parte-se da percepção de que as instituições, os atores e as práticas políticas nas democracias liberais estão em crise, sobretudo em função da fraca participação política dos cidadãos e da separação nítida e seca entre a esfera civil e a esfera política.

- A democracia digital se apresenta como uma oportunidade de superação das deficiências do estágio atual da democracia liberal.

- A democracia digital se apresenta como uma alternativa para a implantação de uma nova experiência democrática fundada numa nova noção de democracia.

- O que a democracia digital como experiência deve assegurar a participação do público nos processos de produção de decisão política.

A premissa é bem conhecida: a democracia representativa tem como seu fundamento a idéia de soberania da vontade popular. Da premissa, passa-se à promessa..

O modelo de democracia representativa entra, portanto, em crise.

A alternativa histórica à democracia representativa é a democracia direta, vencida historicamente por inadequada a sociedades de massa e à complexidade do Estado contemporâneo. A introdução de uma nova infraestrutura tecnológica, entretanto, faz ressurgir fortemente as esperanças de um modelo alternativo, a Democracia Direta Digital!

Trata-se, na verdade, de um modelo absolutamente teórico, mas com grande efeito prático, sustentando a esperança de formas de participação popular na política contemporânea e a elaboração e execução de projetos destinados a reformar a qualidade democrática das nossas sociedades.

Não resta dúvida quanto ao fato de que a Internet proporciona instrumentos e alternativas de participação política civil.

a. A internet permitiria resolver o problema da participação do público na política que afeta as democracias representativas liberais contemporâneas, pois tornaria esta participação mais fácil, mais ágil e mais conveniente (confortável, também). Isso é particularmente importante em tempos de sociedade civil desorganizada e desmobilizada ou de cidadania sem sociedade;

b. a internet permitiria uma relação sem intermediários entre a esfera civil e a esfera política, bloqueando as influências da esfera econômica e, sobretudo, das indústrias do entretenimento, da cultura e da informação de massa, que nesse momento controlam o fluxo da informação política;

c. a internet permitiria que a esfera civil não fosse apenas o consumidor de informação política, ou impediria que o fluxo da comunicação política fosse unidirecional, com um vetor que normalmente vai da esfera política para a esfera civil. Por fim, a internet representaria a possibilidade de que a esfera civil produzisse informação política para o seu próprio consumo e para o provimento da sua decisão.

Há, a rigor, uma escala que vai crescendo em intensidade desde graus mais moderados de reivindicações até formas mais radicais de defesa da participação popular, em todos os modelos, a experiência da internet é vista, ao mesmo tempo, como inspiração para formas de participação política protagonizada pela esfera civil e como demonstração de que há efetivamente formas e meios para a participação popular na vida pública.

Há, digamos assim, alguns graus de participação popular proporcionados pela infra-estrutura da internet, que parecem satisfazer diferentes compreensões da democracia.

O grau máximo, evidentemente, é representado pelos modelos de democracia direta, onde a esfera política profissional se extinguiria porque o público mesmo controlaria a decisão política válida e legítima no interior do Estado. Trata-se do modelo de democracy plug’n play, do voto eletrônico, preferencialmente on-line, da conversão do cidadão não apenas em controlador da esfera política, mas em produtor de decisão política sobre os negócios públicos. O resultado do estabelecimento de uma democracia digital de quinto grau seria, por exemplo, um Estado governado por plebiscitos on-line em que à esfera política restaria exclusivamente as funções de administração pública, ou seja, o Poder Legislativo passaria a pertencer a esfera de competência e responsabilidade de cada cidadão!

Num passo adiante, as perspectivas mais utópicas, por fim, freqüentemente especulam que uma comunicação política mediada pela Internet deverá facilitar uma democracia de base e reunir os povos do mundo numa comunidade política sem fronteiras.

Fonte:

Democracia Radical – A Revolução do Terceiro Milênio

Democracia Radical – A Revolução do Terceiro Milênio

por Dr. Clandestino



Estamos submetidos a um sistema jurídico que não atende as nossas necessidades, e que não passa de um instrumento de manutenção do status quo e legitimação da nossa servidão.

A nossa sociedade é completamente ineficiente no controle de seus agentes políticos..

Deixamos que os 3 poderes, que deveriam ser independentes entre si, se misturarem em uma orgia pública, onde a imprensa evita o seu papel de agente fiscalizador da legalidade das ações do governo, a menos que isso interesse os grupos econômicos que bancam as noticias.

Nesse espírito de dialogo, gostaria de realizar um intercâmbio de idéias com vocês, para discutirmos sobre um assunto que considero ser de iminente importância para o projeto de civilização que pretendemos ver consolidado.

A Internet, assim como toda forma de tecnologia realmente revolucionária, por exemplo, o arado, a prensa, a máquina à vapor, a bomba atômica; força uma recontextualização de todas as forças sociais..

Nos encaminhamos, inevitavelmente, para a dissolução das estruturas de poder representativas.

Estou me referindo ao tema da Democracia Direta Digital, e a possível reformulação de toda a estrutura institucional do Estado; a extinção do Poder Legislativo em todos os níveis - Federal, Estadual e Municipal - e a sua subseqüente substituição por um sistema seguro de deliberação on-line, onde cada cidadão poderá participar através da TV digital ou do aparelho celular (assim, como usualmente, pela internet discada, banda larga ou wireless), decidindo por meio de referendos de iniciativa popular e pesquisas de opinião, com um caráter muito mais dinâmico e aberto a experimentação, o regime juridico-constitucional de nosso pais.

Defendo que a Democracia Indireta e Representativa não é falha em princípio, mas conforme a tecnologia evoluiu dando margem a criação de ambientes virtuais que permitem e reunião em tempo real e o livre diálogo de uma porcentagem considerável do eleitorado, instituições como o Congresso Federal e as Câmaras Municipais acabaram se tornando obsoletas, em relação ao que pode ser obtido em termos de participação popular e legitimidade do governo..

A democracia direta nos leva de volta aos primórdios do sistema democrático.

Na Grécia antiga, todos os cidadãos (livres e do sexo masculino, o que implica em uma minoria) decidiam sobre o destino da sua tribo, quais seriam as leis pelas quais eles condicionariam a sua liberdade de ação.

Naquele tempo isso era possível, porque havia ainda poucos participantes, então, com a revolução urbana, as cidades passaram a contar com milhões de habitantes, e esse sistema se tornou inviável em grande escala..

Passamos a eleger representantes políticos, que dariam voz as nossas necessidades, atenderiam as nossas vontades, defenderiam as nossas opiniões.

Isso levou à poluição de nosso ecossistema, à corrupção, ao neoliberalismo, ao sucateamento da infra-estrutura pública e á venda dos recursos naturais de nosso país para empresas estrangeiras, multi-nacionais sem qualquer compromisso com o ser humano, visando apenas lucro.

Mas também acelerou nosso desenvolvimento tecnológico, de modo que hoje podemos usar a internet, uma rede global de telecomunicações, para forjar um local virtual no ciberespaço, onde TODOS os interessados possam se encontrar e substituir o congresso, os parlamentares, determinando o futuro de nosso país.

As discussões e deliberações que atualmente são feitas no congresso passarão a ser realizadas nesse fórum de discussão aberto, que proponho, e quando houver consenso, essas decisões seriam então incorporadas à estrutura hiper-textual da constituição onde se registrará o regime jurídico de nosso país, estando esse sujeito a alterações em tempo real, conforme decisão da maioria dos participantes.

Vamos mudar o sistema colocando nas mãos do cidadão o poder que atualmente é compartilhado apenas pelos membros do congresso, deputados e senadores..

Quando isso acontecer, as leis do nosso país finalmente corresponderão as nossas expectativas, em vez de sofrerem interferência pelos canais da corrupção, a favor dos interesses de grandes corporações internacionais que visam o lucro e pouco se importam com o meio ambiente!

A participação nesse sistema será um dever cívico, e poderíamos sugerir penalizações para quem ficasse muito tempo sem fazer o log-in no sistema, ou ainda oferecer benefícios como desconto no imposto de renda para os participantes e voluntários que contribuíssem mais assiduamente.

Se já na próxima eleição a população eleger no congresso uma bancada majoritária favorável à substituição da democracia representativa pela democracia direta via internet, indubitavelmente já existe a tecnologia, a preços acessíveis porem com a maciça subvenção de recursos estatais, necessária para implementar esse sistema, no entanto, há graus de comprometimento de sua privacidade que deverão ser aceitos por cada cidadão para que isso funcione dentro dos limites atuais dessa mesma tecnologia..

Como disse anteriormente, a tecnologia impõem hábitos e costumes aos agrupamentos humanos que empregam desses mecanismos, ditando o ritmo de desenvolvimento cultural e social.

Podemos prever seguramente que futuras inovações tecnológicas possibilitarão a implementação desse mesmo sistema, ou algo muito próximo disso, porem garantindo uma maior privacidade aos seus participantes.

Mas estamos aptos para escolher por nós mesmos?

Se estamos aptos ou não, essa não é a questão, porque já fazemos indiretamente essas escolhas ao selecionar entre nós alguns para nos representar..

A questão é que podemos agora, com o auxilio da tecnologia, retirar do processo esses intermediários corruptíveis para que as nossas escolhas reflitam mais fielmente as nossas expectativas, nossas vontades!

Como dizia Dalmo de Abreu Dallari em seu livro "Elementos da Teoria Geral do Estado", pagina 130:

"No momento em que os mais avançados recursos técnicos para captação e transmissão de opiniões, como terminais de computadores, forem utilizados para fins políticos será possível a participação direta do povo, mesmo nos grandes Estados. Mas para isso será necessário superar as resistências dos políticos profissionais, que preferem manter o povo dependente de representantes."

Pela Libertação de nossa pátria, e pela supremacia da vontade popular através da Democracia Direta Digital!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

ASSINE PETIÇÃO ONLINE P/ AJUDAR MINHA CANDIDATURA

http://www.petitiononline.com/voto2010/petition.html

Olá, meu nome é Carlos Alberto, sou aqui de Campinas, estado de São Paulo, e desejo concorrer ao mandato de Deputado Federal nas próximas eleições, pelo Partido Verde.

Estou criando essa petição online para tentar assegurar que a cúpula do PV aceite a minha candidatura, porque não existem garantias de que um filiado obtenha a autorização e o suporte de um partido político a menos que seu nome já seja conhecido e possua um potencial de votos extraordinário.

Então vocês devem estar se perguntando, porque um completo desconhecido deseja participar de uma eleição para um cargo tão concorrido? O que o faz acreditar que terá chances de se eleger?

A resposta é simples: devo concorrer, e vou ganhar essa eleição, porque apresento as melhores propostas, o único projeto que poderá solucionar a crise política que se estende desde o Senado até as Câmaras Municipais dos lugares mais recônditos de nosso país, todos envoltos em denúncias de corrupção e desvio de função..

Defendo a dissolução do Poder Legislativo e a criação de um novo sistema de participação política, que transferirá para a esfera particular de cada cidadão a competência e a responsabilidade do legislador!

Como Deputado Federal vou liderar um grupo de consultoria acadêmica para desenvolver um sistema de pesquisa de opinião e votações online que:

- poderá deliberar eficientemente sobre os projetos de lei apresentados pela própria população

- permitirá a cada cidadão acompanhar as discussões, dar o seu voto, e aprovar as leis e as iniciativas governamentais que considerarem as mais adequadas para resolução de seus problemas regionais

- tornará as figuras dos vereadores, deputados e senadores como algo completamente supérfluo
.
Assine essa petição, e estarei a um passo de alcançar esse objetivo, a Revolução da Democracia Direta Radical!

Conto com o seu apoio, juntos vamos transformar esse país..

Para saber mais:

http://twitter.com/DrClandestino

domingo, 23 de agosto de 2009

forças retrógradas já se articulam p/ se opor à Revolução da Democracia Direta Digital; vejam a entrevista de jesus martin-barbero na folha

Forças retrógradas já se articulam p/ se opor à Revolução da Democracia Direta Digital; vejam a entrevista de jesus martin-barbero na folha!

Comunidades falsificadas

Filósofo espanhol diz que a utopia de democracia direta e igualdade total na internet é mentirosa e ameaça minar as práticas de representação e participação políticas reais

RENATO ESSENFELDER
DA REDAÇÃO

Com a emergência de gigantescas redes sociais virtuais, como o Facebook, a internet configura a sua utopia máxima: todos somos iguais. E, se somos todos iguais, não precisamos mais de eleições, pois não precisamos ser representados. Todos nos representamos no espaço democrático da internet.

O raciocínio é tentador, mas, para o filósofo espanhol Jesús Martín-Barbero, é mentiroso -e temerário. "Nunca fomos nem seremos iguais", ele diz, e na vida cotidiana continuaremos dependendo de mediações para dar conta da complexidade do mundo, seja a mediação de partidos políticos ou a de associações de cidadãos.

Martín-Barbero vê a internet como um dos fatores de desestabilização do mundo hoje, que não pode ser pensado por disciplinas estanques. Mundo, aliás, tomado pela incerteza e pelo medo, que nos faz sonhar com a relação não mediada das comunidades pré-modernas. O filósofo conversou com a Folha durante visita a São Paulo, na semana passada.

FOLHA - Desde 1987, quando o sr. lançou sua obra de maior repercussão ["Dos Meios às Mediações", ed. UFRJ], até hoje, o que mudou na comunicação e nas ciências sociais?

JESÚS MARTÍN-BARBERO - Estamos em um momento de pensar o conceito de conhecimento como certeza e incerteza. A incerteza intelectual dos modernos se vê hoje atravessada por outra sensação: o medo. A sociedade vive uma espécie de volta ao medo dos pré-modernos, que era o medo da natureza, da insegurança, de uma tormenta, um terremoto. Agora vivemos em uma espécie de mundo que nos atemoriza e desconcerta.
O medo vem, por exemplo, da ecologia: o que vai acontecer com o planeta, o nível do mar vai subir? A natureza voltou a ser um problema hoje, como aos pré-modernos. Depois vem o tema da violência urbana, a insegurança urbana. Por toda cidade que passo, de 20 mil a 20 milhões de habitantes, há esse medo.

Como terceira insegurança, que nos afeta cada vez mais, aparece a vida laboral. Do mundo do trabalho, que foi a grande instituição moderna que deu segurança às pessoas, vamos para um mundo em que o sistema necessita cada vez menos de mão de obra. O mundo do trabalho se desconfigurou como mundo de produção do sentido da vida.

FOLHA - Nesse mundo de incertezas, como se comporta a noção de comunidade? Como ela aparece em redes virtuais como o Facebook?

MARTÍN-BARBERO - Acho que ainda não temos palavras para nomear esse fenômeno. Falamos em rede social, mas o que significa social aí? Apenas uma rede de muita gente. Não necessariamente em sociedade. Há diferenças entre o que foi a comunidade pré-moderna e o que foi o conceito de sociedade moderna.

A comunidade era orgânica, havia muitas ligações entre os seus membros, religiosas, laborais. Renato Ortiz [sociólogo e professor na Universidade Estadual de Campinas] faz uma crítica muito bem feita a um livro famoso de [Benedict] Anderson, que diz que a nação é como uma comunidade imaginada ["Comunidades Imaginadas", ed. Companhia das Letras], principalmente por jornais e a literatura nacional.

É verdade, são fundamentais para a criação da ideia de nação. Mas Renato Ortiz diz que há muito de verdade e muito de mentira nisso. O que acontece é que, quando a sociedade moderna se viu realmente configurada pelo Estado, pela burocracia do Estado, começou a sonhar novamente com a comunidade. Era uma comunidade imaginada no sentido de querer ter algo de comunidade, e não só de sociedade anônima.

Falar de comunidade para falar da nação moderna é complicado, porque se romperam todos os laços da comunidade pré-moderna. Eu diria que há aí um ponto importante, considerando que no conceito de comunidade há sempre a tentação de devolver-nos a uma certa relação não mediada, presencial. Essa é um pouco a utopia da internet.

FOLHA - Qual utopia?

MARTÍN-BARBERO - A utopia da internet é que já não necessitamos ser representados, a democracia é de todos, somos todos iguais. Mentira. Nunca fomos nem somos nem seremos iguais. E portanto a democracia de todos é mentira. Seguimos necessitando de mediações de representação das diferentes dimensões da vida. Precisamos de partidos políticos ou de uma associação de pais em um colégio, por exemplo.

FOLHA - As comunidades virtuais da atualidade têm pouco das comunidades originais, então?

MARTÍN-BARBERO - Quando começamos a falar de comunidades de leitores, de espectadores de novela, estamos falando de algo que é certo. Uma comunidade formada por gente que gosta do mesmo em um mesmo momento. Se a energia elétrica acaba, toda essa gente cai.

É uma comunidade invisível, mas é real, tão real que é sondável, podemos pesquisá-la e ver como é heterogênea. Comunidade não é homogeneidade. Nesse sentido é muito difícil proibir o uso da expressão "comunidade" para o Facebook. Mas o que me ocorre ao usarmos o termo "comunidade" para esses sites é que nunca a sociedade moderna foi tão distinta da comunidade originária.

O sentido do que entendemos por sociedade mudou. Veja os vizinhos, que eram uma forma de sobrevivência da velha comunidade na sociedade moderna. Hoje, nos apartamentos, ninguém sabe nada do outro. Outra chave: o parentesco. A família extensa sumiu. Hoje, uma família é um casal. O que temos chamado de sociedade está mudando. Estamos numa situação em que o velho morreu e o novo não tem figura ainda, que é a ideia de crise de [Antonio] Gramsci.

FOLHA - A proposta de sites como o Facebook não é exatamente de fazer essa reaproximação?

MARTÍN-BARBERO - Creio que há pessoas no Facebook que, pela primeira vez em suas vidas, se sentem em sociedade. É uma questão importante, mas não podemos esquecer da maneira como nos relacionamos com o Facebook.

Um inglês que passa boa parte de sua vida só, em um pub, com sua grande cerveja, desfruta muito desse modo de vida. Nós, latinos, desfrutamos mais estando juntos.
Evidentemente a relação com o Facebook é distinta. O site é real, mas a maneira como nos relacionamos, como o usamos, é muito distinta. O Facebook não nos iguala. Nos põe em contato, mas nada mais.

FOLHA - De que maneira essas questões devem transformar os meios de comunicação?

MARTÍN-BARBERO - Não sei para onde vamos, mas em muito poucos anos a televisão não terá nada a ver com o que temos hoje. A televisão por programação horária é herdeira do rádio, que foi o primeiro meio que começou a nos organizar a vida cotidiana. Na Idade Média, o campanário era que dizia qual era a hora de levantar, de comer, de trabalhar, de dormir. A rádio foi isso.

A rádio nos foi pautando a vida cotidiana. O noticiário, a radionovela, os espaços de publicidade... Essa relação que os meios tiveram com a vida cotidiana, organizada em função do tempo, a manhã, a tarde, a noite, o fim de semana, as férias, isso vai acabar. Teremos uma oferta de conteúdos. A internet vai reconfigurar a TV imitadora da rádio, a rádio imitadora da imprensa escrita... Creio que vamos para uma mudança muito profunda, porque o que entra em crise é o papel de organização da temporalidade.

FOLHA - A ascensão da internet e da oferta de informação por conteúdos suscita outra questão, ligada à formação do cidadão. Não corremos o risco de que um fã de séries de TV, por exemplo, só busque notícias sobre o tema, alienando-se do que acontece em seu país?

MARTÍN-BARBERO - Antigamente, todos líamos, escutávamos e víamos o mesmo. Isso para mim era muito importante. De certa forma, obrigava que os ricos se informassem do que gostavam os pobres -sempre defendi isso como um aspecto de formação de nação.
Quando lançaram os primeiros aparelhos de gravação de vídeo, disseram-me que isso era uma libertação: as pessoas poderiam selecionar conteúdos.

Mas esse debate já não é possível hoje. Passamos para um entorno comunicativo, as mudanças não são pontuais como antes. A questão não é se eu abro ou não abro o correio. Não quero ser catastrofista, mas o tanto que a internet nos permite ver é proporcional ao tanto que sou visto. Em quanto mais páginas entro, mais gente me vê. É outra relação.

Temos acesso a tantas coisas e tantas línguas que já não sabemos o que queremos. Hoje há tanta informação que é muito difícil saber o que é importante. Mas o problema para mim não é o que vão fazer os meios, mas o que fará o sistema educacional para formar pessoas com capacidade de serem interlocutoras desse entorno; não de um jornal, uma rádio, uma TV, mas desse entorno de informação em que tudo está mesclado. Há muitas coisas a repensar radicalmente.